Memórias...
A minha bisavó morreu já há uns anitos com a bonita idade de 104 anos. Nos seus tempos de moça casadoira foi uma das "cantadeiras" do lugar onde viveu. Chamada por vezes aos bailaricos da terra e mesmo de povoados vizinhos, degladiava-se em desgarradas até altas horas da noite. Mais tarde vim a saber tratarem-se de no máximo dos máximos as 22 horas no verão. Era gente trabalhadora.
Do alto dos seus 104 anos, Rosalina continuava lúcida e a divertir-nos até perto do final da sua vida.
Partilho convosco uma das "suas" modas.
Hoje estou de vagos vou-me plantar a escrever, as minhas quatro verdades p’ra mandar às raparigas. Quatro centos de mentiras.
Pelo mar andam as lebres, p‘lo mato as enguias, p’as telhas as pardelhas.
Nesta idade que eu tenho ninguém viu mais do que eu.
Dentro de uma amora vi a torre de Viseu e a cidade de Angola.
Vi uma formiga à luta com a torre de alfamiga, qual de baixo qual de riba, inté que me fizeram sangue na barriga.
Também vi um galo atrás de trinta cavaleiros.
Também vi dois estorninhos com carretas de rezar, mas sempre pelo mar a andar!
Também vi uma minhoca, foi para se recolher à toca e saíram de lá duas porcas lameiras. Deitei-as à minha porca parda tirou-mas a minha burra sarda.
Tortos porcos foram os meus. Fui com eles à feira, só me davam sete tostões e já tinham sete meses.
Tortos porcos foram os meus. Fui com eles à caça. Onde estava um terreiro avistei um pessegueiro carregado de avelãs e de ameixas temperãs. Salta-me de lá o homem dos marmelos – Eh homem, que anda aí a fazer nesse ervilhal que não é seu!! – Abaixou-se a um torrão, atirou-me com um melão, enxergou-me num artelho, quebrou-me um joelho. E ao saltar o valado, se não fosse o cão do caseiro, mordia-me no cajado!
Esta era a minha favorita.
4 comentários:
Bela modinha!
22 horas, essa tua bisavo' era uma galderia :))
Qual era o último nome da tua avó?
experimenta cantar com o ritmo de um rap...talvez venha a ser um sucesso!
Enviar um comentário