Susana
Era meio-dia.
Susana estava, como era seu hábito a esta hora, afundada no sofá a ver o Manuel Luis.
- Já cá devia estar. É sempre a mesma coisa, dizem que entregam às 10 e a gente que espere. - Desabafou ela para o Manuel Luis. Ele limitou-se a gritar-lhe do televisor - Boa Dona Aurora!!! Acertou, acertou...
É facto sabido que o relógio do pessoal das entregas não é como o das outras pessoas. Estes relógios são feitos em pequenas fábricas nos arredores das grandes cidades e, apesar de parecidos com um Timex digital dos anos 80, são basicamente iguais aos das outras pessoas. No entanto, peçam a um funcionário do ramo das entregas, das mudanças, ou mesmo dos piquetes de urgência para vos dizer o que lê no mostrador e vão ver. Para estes "técnicos" o mostrador só revela uma variável e esta por sua vez só pode assumir três valores: Período da Manhã, Período da Tarde e Já-Não-Estou-No-Meu-Horário.
Eram 12h45m.
Susana continuava à espera, à espera e a pensar: Aquela moça é simpática, nunca me lembro do nome dela mas é gira... E ajuda bastante o Manuel Luis. Onde raio anda a minha mercearia?!?! Estou aqui estou a ligar para eles... Enquanto isso Manuel despedia-se para um breve intervalo, lembrando-nos que logo de seguida iam apresentar o caso do senhor que depois de comer uma malagueta num restaurante Indiano, descobriu o sentido da vida e encontrou uma irmã deficiente há muito perdida.
Susana decide ligar para os atrasados que nunca mais chegam. Tocam à campainha. Susana corre para a porta.
- Quem é??
- Entregas 24h!
Susana abre o trinco da porta lá de baixo e a porta cá de cima mesmo a tempo de ver a vizinha a fechar a sua. Espremeu a palavra "cusca" por entre os dentes, enquanto se mirava no espelho para ver se estava apresentável. Mais ou menos.
- Bom dia!
- Boa tarde! Trouxe a minha mercearia?
- Está aí tudo...
- E isto são horas?
- Eu sei eu sei. – Disse o homem olhando para o seu Timex. - Já-Não-Estou-No-Meu-Horário mas decidi fazer esta última entrega e depois vou almoçar. Demorámos um pouco na polícia a preencher papeis do atropel...
- Olhe lá, o que é isto?
- São Bananas...
- Sim mas só duas.
- Ah pois é, essa foi engraçada... O patrão contou-nos que houve alguém que pediu bananas, mas não especificou um número, tivemos para mandar só uma, mas como estava no plural achamos que semanticamente seria mais correcto enviar duas...
- Humpf!!! Adeusinho...
- Adeus e uma boa tarde.
Susana colocou os sacos na cozinha e dirigiu-se para a sala, mesmo a tempo de perder a história interessantíssima da avó do índio deficiente que ao comer caril descobriu o sentido da vida.
1 comentário:
lol. Andas muito inspirado! Então o nome feminino era para isso :p
Queremos mais! (com outros protagonistas, lol)
Enviar um comentário